Chegada a Altamira

Altamira, madrugada de 16 para 17 de janeiro de 2012
Sede do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, pernas doloridas das picadas de pium, cidade silenciosa e deserta ao redor

Depois que a Hilux do generoso fazendeiro de gado e madeira nobre nos deixou na avenida Alacid Nunes, uma das grandes vias aqui de Altamira, e que contemplamos cansados e aliviados o rio Xingu a partir da varanda daquele restaurante, fomos procurar a casa da Wanessa e do Wanderson, que com cuidado enorme têm nos acolhido na cidade.

Logo encontramos a torre da tevê Liberal, que era nosso ponto de referência. (O grupo Liberal é o maior monopólio paraense de comunicação: dono do principal jornal de Belém, de emissoras de rádio e da retransmissora da Globo no estado. Depois descobrimos que a cidade de Altamira não tem jornal impresso próprio e, como mídia local, conta apenas com telejornais em três canais de tevê; a única voz dissonante é a da emissora Santa Terezinha, de propriedade da Prelazia do Xingu.) Em casa nos juntamos ao Marcinho, chegado no dia anterior. Delicioso e inusitado isso de matarmos as saudades dele em Altamira.

Pensávamos que descansaríamos do trajeto para finalmente começar, no dia seguinte, as conversas e visitas que ansiávamos por fazer. Mas alguém teve a lembrança de que seria bom darmos um alô pessoalmente a Dom Erwin, bispo da Prelazia do Xingu (sua biografia está aqui http://pt.wikipedia.org/wiki/Erwin_Kr%C3%A4utler), com quem tínhamos marcado uma conversa para a tarde daquele dia que, infelizmente, o tempo das caronas tornou impossível.

 

Banner no escritório do Xingu Vivo homenageia a luta do bispo Dom Erwin.

 

Verificamos no mapa o endereço da Prelazia e nos pusemos a caminhar. Nosso bairro aqui na cidade fica a uns 30 minutos de caminhada do centro (que beira a orla do rio). No trajeto Altamira se apresentava a nós, noturna, estranha e mutante. Perguntamos em três ou quatro pontos onde poderíamos encontrar o bispo, até chegarmos à catedral de Altamira, em que Dom Erwin terminava, paramentado sobre o altar, de celebrar a missa do segundo dia da novena de São Sebastião — padroeiro do município. Sentamos nos bancos do fundo da igreja, e nosso alô se transformou num aperto de mão em que desejamos a paz de Cristo ao prelado do Xingu.

Aguardamos o bispo ao final da celebração. Vimo-lo entrar novamente na nave por uma porta lateral ao altar, um homem altivo e sereno em camisa pólo, caminhando em passos firmes e trazendo papeis sob o braço. Nos viu e disse “Ah, eu sabia que eram vocês. Quem é a Diana?” — inquirindo entre as duas mulheres do grupo para saber qual era aquela que lhe havia feito os telefonemas.

Conheceu a Diana e elogiou seu piercing de argola no nariz. (“Oh, que bonitinho!”, e uma risada solar.)

Conheceu a todos nós, contou que no dia seguinte pela manhã o Movimento Xingu Vivo Para Sempre se reuniria, disse que telefonaria à sua presidente para saber se poderíamos comparecer ao encontro, e combinou de nos ligar em seguida confirmando nossa ida e informando o endereço.

Deixou a igreja secundado pelos dois seguranças que o acompanham. Da mesma maneira que os bispos de Santarém, Alenquer e Marabá, o prelado de Altamira está sob ameaça de morte graças à sua militância em favor da justiça social e dos povos da floresta.

O celular do Marcinho tocou quando estávamos já a caminho de casa, depois de comermos mingau na saída da missa (mingau é o nome que aqui se dá ao que chamamos, em São Paulo, de canjica) e conversarmos com Ângela e Eduardo, ela altamirense e ele belenense, um casal muito ativo na comunidade eclesial da Prelazia, que vive há três décadas na cidade mas que se muda ao final de fevereiro para Santarém. O filho deles já estuda lá, o que forneceu o pretexto que faltava para que eles fugissem do que veem como o caos tomando conta de Altamira. As histórias e histórias que nos contaram durante os cinco quarteirões que caminhamos lado a lado foram uma pequena (e já impressionante) amostra dos alucinantes impactos, já gritantemente visíveis, que a população e o espaço urbano de Altamira sofrem com as movimentações do Consórcio Construtor de Belo Monte desde o início de 2011.

O hotel começa a ser construído agora, já sabendo que pode negociar seus leitos com doze meses de antecedência. O mercado da cidade está inflacionado com a presença do CCBM.

Sede do Movimento Xingu Vivo, disse Dom Erwin por telefone ao Márcio: esquina da rua Sete de Setembro com a rua Lindolfo Aranha, em frente ao Hotel Lisboa, que foi comprado pelo Consórcio Construtor de Belo Monte como uma das muitas diferentes estratégias para abrigar a enorme quantidade de trabalhadores seus que precisam se hospedar na cidade.

Do Curuai a Santarém

Alter do Chão (Santarém), madrugada de 10 para 11 de janeiro de 2012
Casa da Sirlaine e do Márcio

Foram dois dias, apenas uma noite, que passamos na Conceição.

Sem luz nem água encanada, a grande casa de madeira da sede da fazenda dorme suspensa sobre um altíssimo trapiche construído há 20 anos.

Nesta época do ano, quando as chuvas ainda acabaram de começar, as águas do Lago Grande do Curuai terminam uns 200 metros à frente da casa; durante o auge da cheia elas tomarão toda a faixa de terra até depois da construção, e o assoalho deve cantar com o seu marulho sob as tábuas enquanto o pequeno Joãozinho Diniz pula da varanda direto no lago pra nadar um pouquinho.

Se não é verdade nem nas regiões do sul brasileiro aquela europeia lição escolar sobre as quatro estações do ano, aqui no Norte ela é uma grande besteira. Existem duas estações que se alternam: o verão ou a seca, que se entendemos direito dura entre junho e outubro; e o inverno ou a cheia, que vai de novembro a maio. Portanto as chuvas começaram há pouco mais de um mês, e ainda não foram suficientes para fazer subir o nível do lago e dos rios.

As águas da Amazônia têm sido um tema constante nesta nossa viagem. Talvez não pudesse ser diferente, já que queremos nos alinhar com um movimento de defesa da bacia do rio Xingu. Mas é muito forte a maneira como o primeiro vislumbre do rio Negro em Manaus, o banho noturno no seu leito até o amanhecer, a viagem no navio de ferro até Juruti passando pelo encontro com o Solimões e entrando no grandioso Amazonas, a placidez dos pequenos lagos e igarapés, a majestade do Lago Grande do Curuai, as voadeiras, canoas, bajaras e rabetas que nos transportaram entre a vila e a fazenda, o barco a motor cruzando o lago prateado em noite de lua cheia até Santarém, a chegada à foz do rio Tapajós e a beleza das suas águas azuis verdejantes aqui no balneário de Alter-do-Chão foram todas experiências muito marcantes — principalmente pra Ju e Diana, que nunca tinham feito esse tipo de viagem fluvial. As noites dormidas nas redes com brisa; a sensação do banzeiro que sobra nos dias seguintes à chegada; o gosto doce e a temperatura morna destas águas acolhedoras; nadar nus; notar que cada um dos grandes rios tem uma cor diferente, uma força distinta, algo como um caráter próprio.

E ainda não vimos o rio Xingu.

Acabamos de descobrir que está em projeto, talvez bastante adiantado, a construção de cinco hidrelétricas ao longo do rio Tapajós ou de afluentes seus. Outras duas, as usinas de Jirau e Santo Antônio, já começam a barrar o rio Madeira em Rondônia. Coloque-se o nosso Xingu na conta e três dos mais grandiosos tributários da bacia amazônica estão com seu equilíbrio em perigo sério. O rio Tocantins já está represado desde 1984, com a construção de hidrelétricas das quais a principal é a de Tucuruí, bem próxima de Altamira.

***

Durante nossa estadia na fazenda de seu João e dona Alda Diniz, nos dedicamos a ler um capítulo crucial do livro Tenotã-Mõ, do engenheiro e professor da Unicamp Oswaldo Sevá (http://www.fem.unicamp.br/~seva/Tenota-Mo_caps1a3_pag92.pdf). A publicação, de 2008, detalha o projeto de seis hidrelétricas que assombra o rio Xingu desde o regime militar. Nos ensinou bastante sobre cada trecho do curso do rio, sobre os impactos que já se conseguem prever e sobre os detalhes do plano das barragens, que só fazem sentido no seu conjunto (por isso o temor de que Belo Monte seja apenas a primeira batalha que a indústria barrageira quer ganhar, para garantir a construção futura das próximas cinco usinas).

Mas a maior parte do tempo que passamos na fazenda Conceição foi levada em conversa, comida, rede, caminhada e contemplação. À noite, histórias ao redor da mesa rústica de madeira, sobre grandes sucurijus e surucucus que vivem por estas terras e, vez ou outra, cruzam os caminhos dos ribeirinhos.

Esse delicioso ritmo foi até a tarde do domingo, quando ganhamos mais uma hora e meia de barquinho rabeta sobre o lago para voltar à vila e embarcar no Cidade do Curuai, que saía às 19h para Santarém. Foi nossa vez de tomar parte no espetáculo colorido e esvoaçante da sobrelotação de redes nos dois andares do barco de madeira, em que se dorme como dá jeito, se come muito bem e se ouvem em volume alto as músicas românticas do sertanejo, do brega ou do forró. Muitos homens jovens viajavam, talvez porque é época para os pescadores de ir à sede do município assinar o seguro do defeso (o tempo em que os peixes se reproduzem e a atividade pesqueira tem de parar). Apesar da proibição da pesca nestes meses, o Antônio Gilmar, policial militar quase aposentado que nos contou e ensinou muitas coisas no início da viagem, diz que viu embarcar num outro barco em Curuai uns duzentos quilos de pirarucu que serão vendidos em Santarém.

Depois de horas cruzando o lago que, impressionantemente, se estende em amplidões bem maiores que as próprias margens do Amazonas, as luzes de Santarém despontaram à nossa frente. Aportamos na cidade pouco antes das 3h da madrugada, mas a embarcação não tem pressa e a maior parte dos passageiros continua dormindo até o amanhecer, quando desarma sua rede, toma sua mala e finalmente vai embora. Foi, naturalmente, o que fizemos também, até telefonarmos perto das 8h para a Sirlaine, amiga da Diana e nossa abrigadora aqui na cidade.

Ela e o marido nos recolheram no porto, depois de rodarmos um pouquinho pelo mercado municipal e pelo comércio das ruas portuárias de Santarém. Nos levaram diretamente para sua casa no balneário de Alter do Chão, onde passamos dois dias cozinhando, descansando, nos maravilhando com a praia de água doce da Ilha do Amor (conhecida, como se seu nome não fosse suficientemente piegas, como “o Caribe brasileiro”). Muito rio, muito céu, muita areia finíssima e quente, muitas pedras lindas como joias (oh pieguice), uma trilha de subida do Morro da Piroca para assistirmos ao sol se por, muita lua e luar iluminando a noite no Tapajós.

Muito sorvete de açaí, muito bombom de cupuaçu, uma única cervejinha Cerpa que estava sendo procurada desde o início desta viagem.

A curiosidade sobre a faixa contra as barragens no Tapajós nos levou a conversar com o Cebola, que nos apresentou ao Cauã, que trouxe junto o Lucas Jatobá; os três integram, de perto ou longe, um grupo de pessoas que começam a obter agora informações sobre os projetos de hidrelétricas neste oeste do Pará. Os dados ainda são escassos e ninguém sabe ao certo o calendário dessas obras. Houve em meados de 2011 um seminário em Itaituba (cidade de garimpos que também fica à beira do Tapajós, uns 400 km ao sul de Santarém) para que os povos e culturas do rio se reunissem e se informassem acerca dos planos; a sua articulação ainda está incipiente. Voltamos para casa percebendo enfim que, vindo aqui ao Pará preocupados com as violações perpetradas pelo projeto de Belo Monte, acabamos descobrindo que a usina de Altamira é apenas um dos grandes empreendimentos amazônicos que há décadas geram lucro ao governo, às grandes construtoras e às multinacionais mineradoras (para citar apenas os atores que já conseguimos identificar) e trazem devastação à floresta e aos seus povos.

Há diversos outros na história do país, e ainda muitos aguardam sua vez de sair do papel.

***

Amanhã, o Márcio (marido da Sirlaine) nos busca aqui em Alter às 8h e nos deixa na saída da BR-163, conhecida como Cuiabá-Santarém, para iniciarmos um dia inteiro de caronas. Desceremos a rodovia até o município de Rurópolis, onde ela faz entroncamento com a Transamazônica. Nesta outra estrada, tomaremos a direção leste para Altamira. Não temos informações seguras sobre o estado das duas rodovias e a duração da viagem; parece que, num ônibus de linha regular (com muitas paradas), ela está levando algo como sete horas. Estamos, portanto, preparados para esperar bastante.

Ao chegar encontraremos o Marcinho, que está neste momento a bordo de um ônibus vindo de Belém e programado para desembarcar em Altamira às 13h. Ele nos mandou agora uma mensagem de celular que diz: “Acabei de entrar no ônibus. Confortável, refrigerado e lotado. Previsão é de 20h de viagem, mas me disseram que é bem comum o pneu furar no trajeto e atrasar. Muita gente de mudança. O moço do meu lado e seu amigo tão indo trabalhar por lá”.

De Juruti à vila do Curuai

Alter do Chão (Santarém), 10 de janeiro de 2012, manhã
Casa de praia da Sirlaine e do Márcio, nossos anfitriões que agora estão em Santarém

Igapó, igarapé, maniçoba, muriçoca, carapanã, aruanã, pirarucu, piracuí, açaí, abacaba, tracajá, inajá, tauari, curuá, buruti, muruci, tucupi, tacacá, taperebá, tipiti, cupuaçu, bacuri, tucumã, tambaqui, mapará, acuri, tucunaré, tabatinga, muiraquitã.

Nos últimos dias, os nomes de Belo Monte e das cinco outras usinas que a indústria barrageira quer construir no rio Xingu — Babaquara, Iriri, Ipixuna, Kokraimoro e Jarina — têm povoado nossos pensamentos apenas nos momentos de descanso, quando continuamos a leitura do excelente material de estudo que trouxemos na viagem (http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/11/24/bibliografia-comentada-50-leituras-sobre-o-ecocidio-de-belo-monte-1%C2%AA-parte/). Eles se misturam com os muitos outros nomes de lugares, comidas e bichos amazônicos que nos encantam. Algumas palavras evocam memórias pros que têm raízes aqui, outras ecoam raízes nordestinas, outras ainda nos lembram do desconhecimento total que temos, lá de São Paulo, sobre a vida e as coisas do Norte.

Às vezes é bom fazer um nó-de-rabicho com a corda ou então uma boca-de-lobo no punho, pra rede ficar na altura certa. Precisa esperar a eletricidade voltar pra bater um cacho de açaí e tomar ele fresco com farinha de tapioca. Tem que encher todo dia os baldes e o corote grande com água, pra poder usar a pia do banheiro e tomar banho. E tem que soltar a pata, matar a galinha, preparar o cozido, jogar e recolher a malhadeira, limpar o peixe. Tem que colocar farinha d’água no caldo do prato. E depois colocar um pouquinho mais. E lavar louça no jirau tirando com cuia a água bombada do poço pro barril. Remar com a Valdicleia na canoa pra ir duas vezes por dia tirar água da bajara descalafetada, senão afoga o motor. Perceber, sobre as paredes e esteios da casa de madeira, a altura da marca da cheia de 2009, quando a água subiu uns 60 centímetros acima do chão. Conversar de noite no luar do trapicho ouvindo os sapos, os grilos e o tecnobrega ao longe tocando na festa da Boa Vista, ali na outra margem do Lago. Imaginar o terçado da índia Tuíra vendo o terçado de dona Alda matar cobra surucucu e sucuriju grande assim.

***

Um igarapé é um pequeno curso d’água corrente que desemboca nos rios maiores; geralmente é ladeado por mata bem fechada e abriga um microclima mais fresco que o das ruas ribeirinhas, ou das grandes margens do Rio-Mar (neste não se costuma tomar banho, por causa das águas barrentas). Nos fundos da cidade de Juruti há um lago amplo, lindo e sereno que, sem ser exatamente um igarapé, matou nossa vontade de banho de rio e pôr-do-sol à beira do Amazonas. Isso aconteceu na tarde do dia 5, depois de uma manhã preguiçosa e chuvarenta que rendeu mais pesquisas, contatos para as próximas cidades e entrevistas com moradores sobre as mudanças vindas com o projeto de mineração. O dia também rendeu um papo com o Secretário de Gabinete do prefeito (que apontou para uma relação felizmente mais tensa do que pensávamos entre a prefeitura, petista, e a Alcoa) e um encontro marcado para dia 12 em Altamira com dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu e um dos militantes de décadas contra a construção da usina. Além de um belo mole de tabaco.

Foi na manhã seguinte, sexta-feira dia 6, que deixamos o alojamento paroquial de Juruti. Nosso próximo destino era a Vila do Curuai, distrito de Santarém que fica bem distante da sede do município — separado desta pela imensa massa d’água que é o Lago Grande do Curuai (http://g.co/maps/8mtca).

A ideia era acordar bem cedo naquele dia para estarmos na estrada o quanto antes e conseguirmos alguma carona. Sim, nesta etapa iríamos por terra, percorrendo uma parte da PA-257, a estrada local conhecida como Translago, que liga Juruti à beira do Tapajós (na comunidade do Patacho), onde é possível tomar uma balsa rápida até o porto de Santarém. Obviamente não conseguimos estar tão cedo quanto queríamos na estrada: já era quase 11h quando levantamos nossos polegares pela primeira vez, mas não demorou muito para os primeiros carros pararem. A maioria, na verdade, estava curiosa com as três figuras extravagantes fazendo sinais no acostamento e levantando folhas de papel com a inscrição curuai em letras grandes. Após algum tempo de espera, um caminhão encostou e o motorista se dispôs a nos levar até o início da Translago, 18 km à frente de onde estávamos e fim do trecho asfaltado para nós. Ele era baiano e veio a Juruti se aventurar nos trabalhos temporários da época de construção das instalações da mineradora. Quando minguaram os empregos dessa época, virou funcionário de um armazém local de material de construção transportando materiais diversos; naquela viagem, ia buscar uma carga de areia para o depósito.

Nos deixou no entroncamento do asfalto com a piçarra, e já no início dessa pequena estrada avistamos a primeira placa: “Rio Tapajós – 128 km”. Nem bem alguns minutos se passaram quando um caminhão tipo pau-de-arara apontou no caminho, trazendo duas famílias que vinham de Juruti e também se dirigiam para o Curuai. No começo relutante, o patriarca aceitou nos levar e subimos todos na caçamba. Eram famílias realmente numerosas, com mais alguns agregados: vinham naquele caminhão e em mais outro um pouco atrás. A maioria dos jovens estudava em Manaus e ia para a vila passar as férias, como nos contou a Olga, professora de matemática na metrópole manauara. A ligação deste oeste do Pará com a capital amazonense é muito maior do que propriamente com Belém. Esse é um dos motivos para a luta pela emancipação do estado do Tapajós, “região esquecida pelos políticos da capital” como ouvimos muitas vezes. Todos com quem conversamos em Santarém, Juruti e Curuai lamentam a derrota desse projeto no plebiscito recente sobre a divisão regional.

Passamos por diversas vilas pequenas com casas de madeira e cobertura de palha, de uma planta bem abundante na região. Por aqui e acolá há placas do governo estadual avisando sobre alguma obra ou melhoria que não se via na prática; outras anunciavam o programa federal de eletrificação rural (“Luz Para Todos”). Em meio a isso, a abundante floresta. Nosso motorista dirigia veloz, atacando todas as curvas com uma mescla de experiência e insensatez, tudo ao som da boa e velha aparelhagem paraense, desta vez em músicas dos Mundurukus — a “tribo” que duela todos os anos contra os Muirapinimas pelo título do Festribal, a versão jurutiense do Festival de Parintins, cidade vizinha mais ilustre. Mais alguns igarapés vencidos pela estrada e chegamos ao nosso destino, o Curuai.

A vila ganhou seu nome por conta da tribo indígena Curuaí que primeiro habitou o local há muitos séculos, mas que hoje só deixou lembranças distantes. Apesar de pequena, Curuai é a mais importante comunidade da beira do Lago Grande que leva seu nome. Esta é uma enorme região alagada, formada por parcelas de água do próprio rio Amazonas, alguns igarapés tributários e grandes faixas de várzea e de “terra firme” alagáveis. Na época da cheia as águas sobem vários metros e reconfiguram a paisagem; durante a seca se formam longas praias de areia branca e surgem algumas ilhas ou penínsulas. A região apresenta uma biodiversidade importante e um rico histórico de povoamento humano. Aqui estão as raízes da família do João.

Descemos próximo à igreja matriz e fomos lá em busca de agasalho. Nossa esperança era encontrar algum tipo de alojamento paroquial, semelhante ao que nos abrigou em Juruti. Passaríamos na vila apenas aquela noite, já que no dia seguinte bem cedo encontraríamos o tio do João no porto, chegando de barco de Santarém para nos levar até a sua fazenda, a Conceição. Nada feito. Tanto a igreja quanto a secretaria estavam fechadas: dona Maria, a sacristã, havia saído para o almoço e só retornaria dali a uma hora.

Ao lado da igreja estava o colégio municipal Thiago Xisto, e lá fomos buscar algumas informações. Raimundo, o jovem diretor, nos atendeu muito simpático mas não pôde oferecer abrigo ali mesmo no colégio. Acabamos deixamos as mochilas em sua sala para dar uma volta pela vila enquanto a igreja não abria.

Na saída da escola conhecemos Catebreu, funcionário da prefeitura em outro colégio e poeta de primeira ordem, figura irreverente e muito conversadora. Fez questão de nos levar para conhecer a biblioteca pública que estava a seus cuidados. Pequena e estreita, ela abrigava um amontoado de livros, vários deles didáticos, algumas aranhas e mariposas, e um exemplar de O que é Socialismo do Tragtenberg parecendo fora do seu lugar. Lá mesmo nos ofereceu acolhida em sua casa, onde mora com seus pais, o que prontamente aceitamos com muita satisfação. Foi então que conhecemos o grande seu Ezequiel e sua esposa dona Laureci.

Seu Ezequiel é uma dessas figuras cablocas que representam com maestria a história do povo ribeirinho do Lago Grande. Com traços fortes, mais negros que indígenas, cabelos já branqueados pelo tempo, fala mansa muito bem articulada, cerimonioso em alguns momentos, experiência de quem viveu muitas cheias e vazantes do rio, desses que conseguem conversar sobre qualquer assunto, sabedoria popular, pulsante, falante, com o fino sotaque marcado de ribeirinho paraense, pausas poéticas para organizar as ideias e movimentos coordenados de mãos e sobrancelhas para enfatizar as passagens mais importantes. Um contador de causos dos mais competentes, sabedor da primazia dos detalhes em toda história e conhecedor das muitas da malandragem do jabuti ou do macaco, capazes de lograr na esperteza a força meio besta da onça pintada.

Conversamos durante algum tempo até o Catebreu ter a ideia de nos levar a um igarapé próximo — o fim da tarde se aproximava e o calor ainda era grande. Fomos os quatro.

O caminho era longo (mesmo porque incluía um almocinho e um açaí com tapioca). Passamos por boa parte da vila, incluindo a pista de pouso local (que, segundo disseram tanto a Olga quanto o Catebreu, só recebe aviões em época de eleições municipais). Fomos apresentados também ao curuá, a palmeira rasteira que dá um coquinho pequeno de mesmo nome e da qual se extrai a palha branca, usada para a cobertura dos telhados das casas, como vimos nas comunidades à beira da Translago.

O igarapé do Cambeta é um lugar precioso. Águas claríssimas, bem frias, uma prainha convidativa e, um pouco mais adentro do curso d’água, uma correnteza moderada. Peixes pequenos nos rodeavam e a sensação da água passando pelo corpo foi restauradora.

Já no caminho de volta, logo após o entardecer, conhecemos a Rádio Lago, uma estação comunitária que transmite somente músicas nacionais e locais para o Curuai e parte do Lago Grande. Zaira Vasconcelos, uma jovem dos seus 19 anos, apresentava o programa “Fim de Noite”, um pouco perdida naquele momento pela ausência do técnico de som. Na antessala, pequenas caixinhas individuais com pedidos de música para cada um dos programas apresentados (o de Zaira era o mais requisitado dentre todos). A locutora fez um agradecimento rápido durante a programação aos “amigos visitantes vindos de longe” e nos ofereceu com carinho um Michel Teló ao vivo. Retornamos à casa de Catebreu e seu Ezequiel, que estava já algo preocupado com a nossa demora. Cadeiras na calçada, tragadas no nosso cigarrinho de mole, visita breve de um compadre que chegava de Santarém, e fomos nos recolher cedo para encontrar, ainda na madrugada, com o João Diniz — não o nosso, mas o seu quase-homônimo tio.

Os barcos de Santarém começam a aportar no cais do Curuai por volta das 4h. Ouvem-se suas buzinas ao longe, e na rua se escutam os carros de boi que, táxis amazônicos, vêm carregar as matulas de quem volta para casa. A iluminação pública, que chegou na vila há poucos anos, falhou no momento em que saíamos. De mochila nas costas sobre a calçada, ainda ouvimos uns causos emendados do seu Ezequiel até decidirmos ir para o cais usando a lanterna mesmo.

O caminho era bem curto. Já estavam aportados o Sousa Pereira, o Ribeiro Filho e o Gavião, pequenos barcos a motor (super)lotados de redes coloridas e por cujas estreitas rampinhas de descida não parava de sair gente e pacote atrás de pacote. Mas faltava justamente o Cidade do Curuai, onde vinham seu João Diniz com dona Alda e o netinho de cinco anos (cujo nome e sobrenome, adivinhem qual era). Conversando com os carregadores, descobrimos que aquela luzinha que se via bem longe parada havia um tempinho era o barco que aguardávamos, encalhado no lago. Mas o desencalhe foi breve, a embarcação chegou e com mais algum tempo de espera entramos todos na voadeira que nos levaria à sede da Conceição, distante uma hora e meia pelas águas Lago Grande.

Foi quando estivemos mais perto de observar esse interior ribeirinho do Pará. (Perdão: do Tapajós.) Era dia 7, sábado. De lá para este dia de hoje em Alter do Chão ainda resta bastante o que contar, mas a tarde já avança e precisamos procurar a entidade daqui que colocou na praça uma faixa com as frases “ESSE RIO É NOSSO – Fora as hidrelétricas do Tapajós”. Quem assina a faixa é um selo que diz “Defesa da Bacia do Rio Tapajós, seus Povos e Culturas” e, como sabemos que há usinas projetadas também para este outro rio, estamos muito curiosos para conhecer o movimento que começa a se articular com o objetivo e se opor à sua construção.

Em Juruti

Juruti, 4 de janeiro de 2012
Alojamento paroquial da Igreja de N.S. da Saúde, cujo sino toca agora as badaladas da meia-noite. 
Ao som de grilos, sapos e Raízes Caboclas — o mais famoso grupo de Música Popular Amazônica (http://www.youtube.com/watch?v=lRanVBbre3c)

Pela manhã de ontem, nas últimas horas da viagem de barco, um senhor de Parintins nos perguntou “Mas o que vocês vão fazer em Juruti? Não tem nada lá!”.

De todas as cidades desta linha fluvial (Manaus e Parintins ficam antes, e depois estão Óbidos, Oriximiná e Santarém), Juruti era até agora a menos importante e com menos atrativos turísticos. Mas em 2006 a multinacional Alcoa, gigante da produção de alumínio, começou a instalar aqui o que hoje todos chamam de “o Projeto de Mineração”. Após fazer, desde o início da década, os estudos de prospecção que revelariam uma das jazidas de bauxita mais ricas do mundo (a exploração deve durar 70 anos e cada quatro toneladas do minério rendem uma tonelada de alumínio, o que é uma proporção inusualmente alta), a corporação passou dois anos instalando estruturas e iniciando os diálogos com a população, para apenas em 2009 iniciar as operações de extração, beneficiamento e venda de bauxita na Mina de Juruti.

Descemos às 13h no pequeno porto da cidade. Aqui nasceu o pai do João.

Nossa primeira inquietação ao andarmos pelas ruas de Juruti era o fato de haver como que um véu de novidade sobre ela. Os comércios são impecáveis, assim como as pessoas dentro deles, comprando ou vendendo, exceto por alguns velhinhos. Há uma quantidade grande de drogarias, casas de construção, lan houses e lojas de celulares, sobretudo estas. Muitos jovens andavam pela rua, conversavam na praça, ensaiavam num galpão para integrar com perfeição a apresentação do Garantido no festival do Boi de Parintins em junho. Alguns no estilo do skate, alguns com jeito de emo, nenhum com as nossas roupas de bicho grilo e rostos vermelhos sofrendo o esquecimento do protetor solar. Duas crianças de bicicleta perguntaram ao João “Você é hippie, né?”.

Essa primeira tarde foi ocupada com a busca de lugar para dormirmos (foi o Francinei, funcionário da sacristia, quem conversou com o padre auxiliar da paróquia e nos colocou neste alojamento, depois de batermos à porta de outra das muitas igrejas evangélicas da cidade), e com duas horas de lan house para pesquisarmos alguns dados, enviarmos nosso primeiro relato e recebermos notícias da Ocupa, da viagem de Duda e Carol a Porto Alegre, das famílias, das pessoas queridas e tudo o mais. Eram já 18h quando armamos nossas redes e tomamos, aliviados, o segundo banho do dia. No Pará é assim: menos de três duchas diárias é para os fortes (http://www.facebook.com/noamazonas).

Uma volta pela cidade à noite, janta caseira à base de carne-de-sol (que segundo a Ju não é a mesma coisa que carne-seca, lição aprendida), cervejinha no Bar do Chinês, conversinha delícia na varanda do alojamento até altas horas e depois noite de sono embalado na rede com chuva o tempo todo até de manhã. Para hoje tínhamos conseguido marcar uma conversa (no balcão da farmácia — “Oi, eu queria falar com alguém da Alcoa, como eu faço?” — “Hm, eu tenho um amigo que conhece uma funcionária da Alcoa, peraí” — telefonema — outro telefonema — encontro marcado, no Pará é assim…) com Anne Alamar Dias, analista de relações comunitárias da Alcoa, explicando que somos estudantes, estamos em viagem de férias e gostaríamos de conhecer o projeto de mineração. Às 14h saímos do alojamento em direção ao km 2 da rodovia estadual PA-257, onde fica a sede da Mina de Juruti.

Mas o caminho foi longo e só encontraríamos de fato a solícita Anne por volta das 18h. As horas passaram numa longa espera em outra portaria da Alcoa, talvez por um desencontro entre as nossas informações e as dela, mas foram também cheias de encontros interessantes. O primeiro deles aconteceu ainda dentro da cidade, quando passamos em frente a um pátio de propriedade da Secretaria de Meio Ambiente onde um caminhão carregava na carroceria dois imensos segmentos de tronco bruto de pau-d’arco, ao lado de outro veículo com a carroceria cheia de toras já beneficiadas de cedro. Os dois lotes de madeira nobre, extraída ilegalmente, haviam sido apreendidos pelo Ibama e aguardavam destinação por ali. O caminhão com cedro trazia, no para-brisa, um adesivo que dizia “Movido a Biodiesel: ajudando a construir um mundo sustentável”, seguido do símbolo da Volkswagen; peça de humor, definitivamente. Quem nos deu as explicações foi um gari que aguardava por ali a chegada de um colega.

Logo no início da rodovia uma construção grande e muito moderna atraiu a nossa atenção. Tinha uma placa na frente, ainda vazia de letreiro. Tudo indicava que aguardava ser inaugurada. Fomos perguntar o que era ao vigia que ocupava uma grande guarita na sua entrada. É um hospital, já totalmente equipado (conforme nos explicaram primeiro o moço, e depois com mais detalhes a própria Anne), que deve entrar em funcionamento dentro de poucos meses. Será administrado por uma fundação contratada pela Alcoa, e atenderá os funcionários da mineração — mas também firmou convênio com o SUS para realizar o atendimento dos habitantes de Juruti.

O moço, cujo nome agora esquecemos, veio de Santarém com o irmão para ocuparem dois dos milhares de postos de trabalho abertos com a vinda da Alcoa para cá. É vigilante na Atlântica, empresa terceirizada que realiza a segurança das instalações da multinacional. O irmão conseguiu o posto de inspetor. Eles trabalham durante quinze dias e depois têm mais quinze de folga. O vigia pensa em casar com a moça que hoje namora e mudar-se de vez para Juruti, em vez de passar, como faz hoje, os quinze dias livres em Santarém “gastando tudo o que eu ganhei nos outros quinze dias”. Especula que em São Paulo deve fazer frio, e tem um primo que deixou a metrópole paulista para viver em Santarém — uma cidade mais tranquila mas que tem tudo, “a capital do nosso estado do Tapajós”.

Da altura do hospital até a portaria da Alcoa no km 2, onde achávamos que deveríamos encontrar a Anne, pedimos carona na estrada para fugir do sol forte. Quem nos transportou foi um rapaz que viajava num carro de passeio branco. A Ju lhe perguntou, no chute: “Você trabalha para a Alcoa?”. Ele respondeu que não: que tinha uma locadora de carros. “Que presta serviço para a Alcoa?”, chutamos de novo. Desta vez acertamos.

Na portaria 2 funcionam, segundo o que conseguimos ver, quatro equipamentos da multinacional: uma Estação de Tratamentos de Efluentes que lida com todo o resíduo dos banheiros químicos utilizados nas instalações, uma Mini-Empresa que realiza qualificação profissional inicial para os filhos dos funcionários alcoanos, uma unidade do Senai onde acontecem os cursos técnicos destinados aos habitantes de Juruti para ocuparem postos na mineração, e um centro de treinamento em temas de SSMA (Saúde, Segurança e Meio Ambiente) voltado aos empregados diretos e terceirizados da mina.

Quando já havíamos visto e fotografado todos os detalhes possíveis dessas instalações e começávamos a ficar entediados com as músicas de tecnobrega tocadas no celular de uma alegre funcionária de limpeza do centro de treinamento, desistimos da instrução de aguardar a Anne e fomos atrás dela em seu escritório. Conseguimos carona com um dos funcionários da empresa terceirizada de segurança. No trajeto, passamos ao lado de uma comunidade formada por casas muito simples, algumas precárias. Perguntamos se aquele bairro existia há muito tempo. “Não, é uma invasão, deve ter uns quatro anos só, são as pessoas que vieram pra cá por causa da mineradora.” “— São funcionários da Alcoa?”. Ele responde: “Não, ninguém”.

Anne se encontrava em sua sala, ao lado da portaria 1, espaço apertado em que se responsabiliza por todas as frentes de articulação entre a multinacional e a comunidade, além de atender pessoalmente aos “comunitários” que procuram algum esclarecimento ou apresentam alguma demanda à empresa.

Anne é de Belém e está em Juruti há 4 anos, desde o princípio da implantação da mina (depois viríamos a saber que sua história pessoal é marcada pela mineração, pois seus pais já trabalhavam nesse ramo desde sua infância, passando por importantes jazidas, como a de Carajás). Segundo ela, a mina de Juruti é um empreendimento muito diferente dos demais: “Trata-se de um modelo de mineração sustentável, único no mundo atualmente”, por conta da “aproximação com a comunidade”. A Alcoa construiu, além do hospital que visitamos, mais um, para baixas complexidades e que já foi doado à Prefeitura, A mineradora mantém também uma espécie de Conselho Municipal de Sustentabilidade, integrado pelo poder público local, sindicatos e associações locais, câmara de comércio, entre outros. Pelo que consta, é responsabilidade desse conselho avaliar as práticas de sustentabilidade ambiental e social em prática na cidade. Ele se reúne quinzenalmente.

Um dos principais focos da “ação comunitária” da multinacional são atividades de voluntariado promovidas por seus funcionários junto aos “comunitários” (população da cidade, principalmente das vilas e localidades mais próximas à mineração, que formam Juruti Velho). É comum a empresa ser confundida com o poder local ou estadual e ser cobrada por serviços públicos não prestados.

O suprimento de energia para os processos de extração e beneficiamento da bauxita é garantido por minitermoelétricas instaladas na área da própria mineradora, que funcionam à base de óleo diesel fornecido pela Petrobrás. Por conta dessa limitação, não é possível também fazer em Juruti o processo de transformação da bauxita em lingotes de alumínio. O material beneficiado (bauxita em estado bruto, triturada em pequenas rochas do tamanho de um punho fechado) é carregado de navio até São Luís do Maranhão, onde o processo de transformação é feito pela Alumar (empresa formada pela própria Alcoa, Camargo Corrêa e outras companhias). Caso houvesse suprimento garantido de energia a custos baixos, a Alcoa certamente faria todo o processo em Juruti, sem precisar repassar o material ainda em estado bruto a outra empresa. Belo Monte parece encaixar como uma luva nesse panorama.

A conversa foi longa e salpicada por muitos dados e informações, algumas delas relevantes, como a de que o Presidente da Alcoa para a América Latina e Caribe é um homem “muito educado e charmoso”. Ao final, levamos pra casa belos exemplares de bauxita em cubos de resina transparente, com o símbolo da mineradora em uma das faces e o nome da Mina de Juruti em outra.

Saímos de lá felizes pelo encontro ter acontecido e um pouco atônitos. Toda essa lógica de “desenvolvimento” do país e da Amazônia é muito grande, tudo está embricado, se relaciona entre si, atende a anseios de múltiplos lados, e quando uma mineradora resolve por em prática o que de mais “radical” se viu até o momento em ação política e assistência social no local de uma de suas jazidas, as coisas parecem ficar ainda mais complicadas.

Amanhã será um dia importante, o último na cidade, e ainda temos muitas conversas para ter e igarapés para nadar.