Volta Grande do Xingu, 15 de janeiro de 2012, manhã
Passeio de barco com os guerreiros do Movimento Xingu Vivo, visita aos canteiros de obras da CCBM
É preciso contar o que estamos vendo aqui. O Consórcio Construtor de Belo Monte já começou a abrir feridas vermelhas nas margens do rio Xingu. Elas se chamam ensecadeiras, serão três e servirão para conter o rio durante a construção a seco do primeiro paredão. Conter o rio, quem consegue conter um rio? Um rio amazônico tem forças de um gigante, tem pulmões imensos e corre enquanto dorme no leito descomunal que construiu para si mesmo, ou dorme enquanto corre poderosíssimo e veloz singrando o oceano da floresta; ele infiltra as terras subterrâneas e as várzeas férteis, e rege as chuvas, as cheias e as estações; em seus estômagos infinitos vivem os peixes, os botos e as cobras e neles comem os pássaros e os homens; ele é o que é, sabe o que sabe e está onde está há mil anos e nesse tempo criou os seres e os povos que o habitam, que o conhecem, que o cultivam, que o veneram e que o alimentam de volta; e agora a traição de um governo e a cobiça de uma dezena de mentes decide que pode barrá-lo. É um rio. De que tamanho precisa ser o demônio que se torna capaz de barrar UM RIO?